quarta-feira, 12 de novembro de 2008

RAKS EL SHARKY

Dança oriental ou dança do ventre por Maíra Elias Magno da Silva.

Não se pode datar com exatidão o nascimento desta que é considerada uma das mais antigas formas de expressão corporal da humanidade, porém acredita-se que rituais religiosos do antigo império egípcio tenham sido o marco zero na elaboração desta dança milenar (PORTINARI, 1989). Mas será a dança oriental (ou do ventre como é conhecida no ocidente) nos moldes que nos são apresentados hoje em dia, expressão típica da cultura e religião dos povos que ocuparam o império egípcio a cerca de quatro mil anos atrás? Muito dificilmente.


Para reconstituir este quebra-cabeças teríamos que voltar na história cerca de quarenta séculos. A civilização egípcia instaurou-se às margens do rio Nilo e teve cerca de 35 séculos de existência. Em toda a sua história, foi invadida e dominada por vários povos, entre eles: hicsos, assírios, babilônios, mesopotâmios, gregos e romanos (PEDRO, 1985). Sendo o processo de aculturação entre povos dominantes e dominados praticamente inexorável, parte da cultura da época dos faraós foi perdida, parte assimilada e parte re-elaborada. Desta forma, os rituais religiosos do antigo Egito, dos quais acredita-se que a dança oriental deriva, foram, ao longo de séculos de história, profanados, miscigenados ou até mesmo, totalmente perdidos. Assim, não podemos afirmar com certeza que a dança oriental é uma dança egípcia por excelência. Será ela uma dança árabe?

Provavelmente a maior contribuição para a elaboração e perpetuação desta dança tenha vindo dos povos árabes islâmicos, porém existem registros contemporâneos à civilização Greco - Romana, que datam do século I DC, nos quais um poeta hispano - romano denominado Marcial, descreve a beleza da dança de bailarinas fenícias, chamadas Gaditanas. Este entre outros poetas da época cita a beleza destas danças, dizendo que os movimentos se concentravam nos quadris, e que tais bailarinas eram o encanto de Roma, naquela época.
Além destes documentos, temos registro de pinturas ainda da civilização clássica, em que são ilustradas bailarinas envoltas em véus, e gravadas em poses que se assemelham muito a movimentos típicos da dança oriental. Porém, torna-se muito difícil conceituar estas danças ou mesmo abordar o tema da dança oriental antes da expansão dos árabes por volta do século VII da era cristã, uma vez que os registros são pontuais, escassos e subjetivos. Desta forma é comum associar a dança oriental aos povos árabes, uma vez que foram eles os responsáveis pela união destas danças e manifestações culturais em uma única dança, batizando-a de Raks El Sharky (raks dança em árabe e sharky oriente).

A modernização da dança oriental ocorre no início do século XX, neste período a dança é levada para o palco de casas noturnas, cassinos e às telas do cinema. Desta forma tornou-se necessária uma elaboração cênica desta dança. As bailarinas foram buscar inspiração principalmente no ballet clássico e nos filmes musicais norte americanos, pois eram estas as danças cênicas mais comuns da época. Sob estas influências, a dança oriental não se descaracteriza e nem perde a sua ligação com a cultura árabe, muito pelo contrário, o nacionalismo e o regionalismo eram figuras marcantes nos espetáculos da época.
Muitos elementos cênicos são introduzidos à dança oriental tais como: grande movimentação, interpretações teatralizadas, marcações coreográficas, corpos de baile, grandes entradas, finais marcantes, figurinos cada vez mais luxuosos, linhas de movimento nítidas e alongadas. Porém, o sentimento oriental e a improvisação permaneciam presentes às bailarinas, o que explica a extrema diversidade de estilos e formas de se dançar das bailarinas árabes.

Foi criada uma rotina para shows, não uma forma de pasteurizar as bailarinas. A liberdade de criação e a personalidade de cada bailarina continuaram sendo a parte mais importante de um espetáculo de dança oriental. Este estilo criado no século XX tem seu apogeu entre as décadas de cinqüenta e setenta. Neste período, surgem os grandes nomes da dança oriental, bailarinas que elevam o nome desta dança a níveis mundiais.
Técnica, beleza, interpretação e virtuose estão presentes na dança de bailarinas como Samia Gamal, Suheir Zaki, Fifi Abdul, Najua Foad e atingem o seu ponto máximo naquela que é considerada por muitos, a maior bailarina do mundo árabe em todos os tempos, a libanesa Nadia Gamal. A partir da década de oitenta, do século XX, há uma apropriação por parte da mídia, em especial da televisão, da dança oriental, levando ao que acontece nos países árabes, nos dias de hoje: uma degradação lenta, porém nítida, desta milenar e maravilhosa forma de expressão.

A dança vem perdendo sua espontaneidade, a música assim como as coreografias tornando-se cada vez mais pobres e repetitivas, as bailarinas estão perdendo a graça e a leveza, os figurinos são cada vez mais apelativos, além de uma ocidentalização e erotização das bailarinas, como nunca houve, na história do Oriente Médio.
Porém o estilo clássico (como é chamado o estilo criado no início do século), ainda permanece presente em algumas bailarinas, como na libanesa Bushra, ou em países de restrita exposição das bailarinas na mídia, como é o caso do Egito.

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